sábado, 27 de agosto de 2011

Sr. A. (parte 2)

No berçário, para chamar a atenção, em meio aos bebês escandalosos, Sr. A inspirava profundamente, fazendo um silêncio sepulcral.

Sr. A. chorava, sempre que o colocavam no berço: nunca admitiu ninguém atrás das grades sem que provassem a culpa.

Sr. A. evitava lágrimas no colo do pai. Para compensar os 9 meses que foi só da mãe, o fazia crer que só ele estancava o choro do filho.

Por que demorou a aprender a escrever? Sr. A. tinha medo de restringir seu pensamento às palavras.

Sr. A. gastava um caderno por aula. Sempre buscava a precisão: ao copiar a lição do quadro-negro, usava o mesmo tamanho de letra.

Viu a casca da banana, pisou nela e escorregou de propósito: Sr. A. odiava ser pego desprevenido pelo acaso.

Quando perguntaram ao Sr. A. quem ele era, mentiu: disse seu nome.

Sr. A não era frio: é que para não se derramar, muitas vezes encolhia-se em gelo.

“Tenho medo do precipício”. O eremita sempre quis ser sincero, mas só o Sr. A. fez a pergunta correta: Por que não tenta descer a montanha?