quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ombrando

Teu pedido inusitado
de pudica donzelinha
me suplica em tom safado
que eu só bote a cabecinha

Excitada vem a jura
que profano com mentira
(só explorando a gruta
aplacarei tesuda ira)

Exorcizarei teu cabaço
(castelo que eu mesmo assombro)
mas com a glande vai a haste
pois meu pau não tem ombro

sábado, 27 de agosto de 2011

Sr. A. (parte 2)

No berçário, para chamar a atenção, em meio aos bebês escandalosos, Sr. A inspirava profundamente, fazendo um silêncio sepulcral.

Sr. A. chorava, sempre que o colocavam no berço: nunca admitiu ninguém atrás das grades sem que provassem a culpa.

Sr. A. evitava lágrimas no colo do pai. Para compensar os 9 meses que foi só da mãe, o fazia crer que só ele estancava o choro do filho.

Por que demorou a aprender a escrever? Sr. A. tinha medo de restringir seu pensamento às palavras.

Sr. A. gastava um caderno por aula. Sempre buscava a precisão: ao copiar a lição do quadro-negro, usava o mesmo tamanho de letra.

Viu a casca da banana, pisou nela e escorregou de propósito: Sr. A. odiava ser pego desprevenido pelo acaso.

Quando perguntaram ao Sr. A. quem ele era, mentiu: disse seu nome.

Sr. A não era frio: é que para não se derramar, muitas vezes encolhia-se em gelo.

“Tenho medo do precipício”. O eremita sempre quis ser sincero, mas só o Sr. A. fez a pergunta correta: Por que não tenta descer a montanha?

sábado, 11 de junho de 2011

FANIQUITO (Marcos Bassini)

Por causa de um faniquito / fui caçar com gato / e matei meu cachorro a grito.

ACASO (Marcos Bassini)

Somo, multiplico, me embaso / planejo meticulosamente / o meu acaso

DOR (Marcos Bassini)

Como uma pedra no rim / passas por mim doendo / tintim por tintim.

(IM)PROVÁVEL

O inexorável arrefece / nada é improvável / depois que acontece

APRENDIZADO (Marcos Bassini)

Não adianta ficar prosa / Nada se aprende (nada) / num mar de rosas

FORÇA DE VONTADE (Marcos Bassini)

Não sei se dá, mas tento / (a pedra nunca é leve / quando a gente é vento)

NÓS (Marcos Bassini)

Por causa do meu ego / o nó na minha garganta / agora é cego

NAVEGANTES (Marcos Bassini)

Somos todos viajantes / viajados, navegantes e navegados / por mares nunca dantes

SUICÍDIO (Marcos Bassini)

Para te esquecer, já disse: / aniversariarei todos os dias / e me suicidarei de velhice